Autor/Postado por: Júlio Eden Maluf Publicado em: 13/08/2018
TRABALHO SOBRE MORAL
Comecemos mencionando uma breve reflexão disposta na 2ª carta de Paulo aos Coríntios, onde ele diz: “Tudo me é lícito, mas nem tudo me convém”;
E por que nem tudo nos convém?
A resposta é simples, porque todos nós seres humanos tidos como homens médios, ou seja, aquele padronizado por nossa sociedade, como possuidor de um nível mediano de cultura (entenda cultura como gênero, do qual instrução, educação e conhecimento, seja ele científico ou empírico são espécies), detemos em razão desta “bagagem”, certos parâmetros psíquicos individuais que orientam nossas ações.
Neste momento, há de fazer uma ressalva apenas para dizer que não é possível falar de moral, sem falar de ética.
Isso porque para o Prof. e Filósofo Mário Sérgio Cortela – “Moral – é a prática de uma ética, ou seja, ética são princípios que se traduzem na moral” (estes princípios éticos são, portanto, aqueles parâmetros psíquicos individuais que orientam nossas ações para as questões do dia a dia) EX: roubar ou não;
O Prof. Cortela continua ensinando as seguintes definições:
- Amoral como sendo uma pessoa que não tem a capacidade de decidir, escolher ou julgar. EX: uma criança até uma determinada idade; um idoso com síndrome de Alzheimer;
- Imoral como sendo uma característica comportamental analisada de forma subjetiva, de acordo com os valores de uma determinada sociedade, num determinado momento histórico.
EX: beijo entre dois homens, considerado imoral para nós em plena sociedade moderna do século XXI, mas considerado perfeitamente normal entre os gregos da antiguidade. Como exemplo, ele cita-se Sócrates, filósofo grego que era casado com Xântipe, e tinha um amante, um homem jovem chamado Alcibíades (general do exército).
Aliás, não há como falar em moral sem citar pelo menos dois grandes marcos do conhecimento fisolófico acerca desse tema: o grego Sócrates (470-399 a.C.) e o alemão prussiano Kant (1724-1804) – e também por serem parte de duas correntes contrárias acerca do tema.
O escritor Álvaro L. M. Valls fala um pouco acerca destes, dizendo que “(...) o filósofo Sócrates que aparece nos Diálogos de Platão, usando o método da maiêutica (interrogar o interlocutor até que este chegue por si mesmo à verdade, sendo o filósofo uma espécie de "parteiro das ideias"), foi condenado a beber veneno. Mas por quê? A acusação era a de que ele seduzia a juventude, não honrava os deuses da cidade e desprezava as leis da polis (cidade-estado). Depois de dois milênios, ainda não sabemos se sua condenação foi justa. Pois Sócrates obedecia às leis, mas as questionava em seus diálogos, procurando fundamentar racionalmente a sua validade. Ele ousava, portanto, perguntar se estas leis eram justas. E mesmo que chegasse a uma conclusão positiva, o conservadorismo grego não podia suportar este tipo de questionamento, pois as leis existiam para serem obedecidas, e não para serem justificadas. Mas, embora os gregos não gostassem dos questionamentos socráticos, Sócrates foi chamado, muitos séculos depois, "o fundador da moral", porque a sua ética (e a palavra moral é sinônimo de ética, acentuando talvez apenas o aspecto de interiorização das normas) não se baseava simplesmente nos costumes do povo e dos ancestrais, assim como nas leis exteriores, mas sim na convicção pessoal, adquirida através de um processo de consulta ao seu "demônio interior" (como ele dizia), na tentativa de compreender a justiça das leis.
Parece mesmo que Sócrates abandonou até o estudo das ciências da natureza (as famosas cosmologias), para se ocupar exclusivamente consigo mesmo e o seu agir. Sócrates seria então, para muitos, o primeiro grande pensador da subjetividade, o que, aliás, também transparecia por seu comportamento irônico. Pois a ironia (que alguns traduzem como uma ignorância fingida, mas que deve ser muito mais do que isto) sempre estabelece uma diferença entre o que eu digo e o que eu quero dizer, e assim entre a formulação e o sentido das proposições – uma distância, portanto, entre o exterior e o interior.
Ora, se este movimento de interiorizacão da reflexão e de valorização da subjetividade ou da personalidade começa com Sócrates, parece que ele culmina com Kant, lá pelo final do século XVIII.
Kant buscava uma ética de validade universal, que se apoiasse apenas na igualdade fundamental entre os homens. Sua filosofia se volta sempre, em primeiro lugar, para o homem, e se chama filosofia transcendental porque busca encontrar no homem as condições de possibilidade do conhecimento verdadeiro e do agir livre. No centro das questões éticas, aparece o dever, ou obrigação moral, uma necessidade diferente da natural, ou da matemática, pois necessidade para uma liberdade. O dever obriga moralmente a consciência moral livre, a vontade verdadeiramente boa deve agir sempre conforme o dever e por respeito ao dever.”
Em resumo, Kant achava que a igualdade entre os homens era fundamental para o desenvolvimento de uma ética universal. Isso se deve principalmente pela época e pelo local em que viveu (europa – séc. XVIII) – onde se desenvolvia o movimento iluminista que acompanhou a ascensão da burguesia, sob o pretexto de se criar uma igualdade básica entre os homens.
E continua, dizendo que: “Kant precisa chegar a uma moral igual para todos, uma moral racional, a única possível para todo e qualquer ser racional.
Esta moral não se interessa essencialmente pelos aspectos exteriores, empíricos e históricos, tais como leis positivas, costumes, tradições, convenções e inclinações pessoais. Se a moral é a racionalidade do sujeito, este deve agir de acordo com o dever e somente por respeito ao dever: porque é dever, eis o único motivo válido da ação moral.
Legalidade e moralidade se tornam extremos opostos. Diante de cada lei, de cada ordem, de cada costume, o sujeito está obrigado, para ser um homem livre, a perguntar qual é o seu dever, e a agir somente da acordo com o seu dever, e isto, exclusivamente, por ser o seu dever. Como vemos, uma ética bastante revolucionária para uma época dominada por um regime antigo, baseado em tradições e imposições irracionais.
Para Kant, os conteúdos éticos nunca são dados do exterior. O que cada um de nós tem, porém, é a forma do dever. Esta forma se expressa em várias formulações, no chamado imperativo categórico, o qual tem este nome por ser uma ordem formal nunca baseada em hipóteses ou condições. A formulação clássica do imperativo categórico é a seguinte, conforme o texto da Fundamentação da Metafísica dos Costumes: "devo proceder sempre de maneira que eu possa querer também que a minha máxima se torne uma lei universal". (ou seja, simplesmente devo fazer o que toda pessoa de princípios faria naquela determinada situação.)
Os críticos de Kant afirmam ser impossível agir dessa maneira, principalmente porque não se pode ignorar a história e as tradições éticas de um povo, o que é verdade.
Todavia, os alemães por motivos históricos e de costumes, como por exemplo, a vergonha dos atos praticados durante as duas grandes guerras em que estiveram envolvidos, têm essa visão de Kant enraizada como parte de sua cultura até os dias de hoje, tendo em vista que para o alemão, o cidadão tem simplesmente o dever moral de fazer aquilo é certo, por exemplo, para eles “não” significa “não” e pronto.
Enquanto que para o americano, esse dever de fazer o que é certo está mais voltado para o aspecto religioso, ou seja, é uma obrigação moral que se não cumprida pode ensejar em castigo divino, enquanto que para o brasileiro tudo pode se dar um “jeitinho”, não havendo obrigação moral nenhuma de se fazer aquilo que é certo. Aliás, no Brasil, a palavra “não” pode significar: sim, talvez, vamos ver, espera aí um pouquinho, etc...
Mas voltando, cabe mencionar que em meio a estas duas posições (Sócrates e kant), surge uma posição no mínimo curiosa, a de Descartes (1596 – 1650 tido como fundador da filosofia moderna) com a sua “moral provisória”, dizendo que deveríamos cuidar primeiro das questões teóricas, resolvendo as questões práticas do jeito que der – ou seja, deixemos a ética de lado e vamos cuidar somente das questões técnicas como: arrumar dinheiro, progredir na vida e “curtir” o máximo possível, etc.
Temos portanto, dois grandes divisores de água, de um lado a ética grega embasada na busca de um princípio absoluto de conduta, procedente de um contexto religioso, o qual reflete através do subjetivismo pensamentos bastantes conhecidos entre nós, tais como: “nada em excesso” e “conhece-te a ti mesmo” – comte nosce – ideias nascidas no santuário de Delfos – do deus Apolo e, que foram sistematizadas por Platão, um dos principais discípulos de Sócrates.
Aliás, Platão tinha como princípio absoluto a busca pela felicidade, e dizia que o sábio não é o cientista teórico, o estudioso, mas sim o homem virtuoso, o qual possuía quatro virtudes essenciais: a justiça, a prudência ou sabedoria, a fortaleza ou valor e a temperança.
E de outro, a filosofia extremamente racionalista de Kant que busca descobrir em cada homem uma natureza fundamentalmente igual, porém livre.
Para Kant, a natureza humana é uma natureza racional, o que equivale a dizer que a natureza nos fez livres, mas com isso não nos disse o que fazer, ou como agir. Sendo o homem um ser natural, mas naturalmente livre, isto é, destinado pela natureza à liberdade, ele deve desenvolver esta liberdade através da mediação de sua capacidade racional. Mas se a natureza nos quer livres e não nos diz como devemos agir, então precisamos consultar a nossa consciência individual.
Por fim, não há como deixar de mencionar a base de toda a moral maçônica, a qual encontra-se amparada por um dos mais sublimes ensinamentos, o de Jesus que diz: “amai ao próximo como a ti mesmo”, devendo o maçom cultivar como seus os princípios da igualdade, da fraternidade e da caridade.
Concluindo, temos que a moral é a prática de uma ética, portanto relativa. Pertence sempre a um grupo, apesar de sempre haver uma tentativa de se fazer dela universal.
A Ética é o conjunto de valores e princípios que todos usamos para definir as três grandes questões da vida: quero, devo e posso.
Isso porque, parafraseando o Prof. Mário Sérgio Cortela:
- tem coisas que quero, mas não devo;
- tem coisas que devo, mas não posso;
- tem coisas que posso, mas não quero.