O Ir. Kennyo Ismail, do Distrito Federal é escritor, tradutor, editor, professor universitário, acadêmico, um dos mais renomados estudiosos e intelectuais da maçonaria no Brasil.
Qual a origem do chapéu na Maçonaria, usado pelo Venerável Mestre, nas reuniões de Aprendiz e Companheiro e por todos os Mestres, nas reuniões de Mestre Maçom?
Uma das obras de José Castellani declara que herdamos o chapéu preto dos judeus ortodoxos, e que o chapéu em Loja é a “coroa maçônica”, influência da realeza europeia, usada pelo Venerável como símbolo de sua posição de liderança.
Afinal de contas, herdamos dos judeus ou dos reis europeus? E os judeus ortodoxos, usam o chapéu preto porque se consideram reis? Não há como misturar uma coisa com a outra, chapéu de judeu com coroa de europeu. Mas Castellani e muitos outros Irmãos tentaram.
Se herdamos o chapéu dos judeus ortodoxos, será que não deveríamos adotar também a circuncisão? Ou talvez as tranças nas orelhas e a barba longa?
Na verdade, o uso do chapéu na Maçonaria é praticamente inverso ao uso do chapéu pelos judeus! Os judeus utilizam o chapéu, obrigatoriamente, durante as orações e cerimônias religiosas, em sinal de temor a Deus. Já o Maçom utiliza durante toda a reunião e retira o chapéu exatamente nos momentos de orações, em sinal de respeito! Dessa forma, fica claro que o uso do chapéu pelos Maçons não tem nenhuma relação com o uso do chapéu pelos judeus ortodoxos, como pensava Castellani.
Já a teoria do chapéu ser um símbolo da “coroa maçônica”, influenciada pelo símbolo de liderança, que distingue o rei dos demais, seria mais plausível, afinal de contas, o Venerável Mestre representa o Rei Salomão, não é mesmo? Porém, porque o Venerável não utilizaria uma verdadeira coroa em Loja? Uma coroa de louros, ou flores, ou de metal? Porque seria um chapéu preto, de abas caídas (REAA) ou mesmo uma cartola (Rito de York)? E por que todos os Mestres usariam em reuniões de Mestre, se o representante do rei Salomão é apenas o Venerável?
Na Grécia Antiga, o chapéu era símbolo de sabedoria e liberdade. O famoso escritor Maçom Oliver comenta sobre o mesmo significado para os romanos, tendo sobrevivido na Maçonaria, desde as Guildas Romanas. Sua relação com a sabedoria permaneceu na Idade Média, como os chapéus dos magos denunciavam, os quais foram adaptados para cartolas pelos mágicos. O chapéu representa proteção. Se, na prática, o chapéu protege a cabeça do dono contra o sol, simbolicamente, o chapéu é como um elmo, que confirma e protege a sabedoria que se encontra na cabeça do Venerável Mestre. Assim sendo, o chapéu do Venerável Mestre pode realmente ser interpretado como uma coroa representativa de sua autoridade. Porém, uma autoridade com base na Sabedoria, assim como a de Salomão. E é por serem detentores da sabedoria maçônica que todos os Mestres utilizam o chapéu nos Ritos originados na França.
O costume do uso de chapéu pelo Venerável Mestre era um costume na Maçonaria inglesa, até a fusão que originou a Grande Loja Unida da Inglaterra. Após a fusão, os antigos costumes foram “reformulados” para agradar ambas as partes, e a tradição do chapéu, simplesmente, foi descartada. O único Ritual na Inglaterra, que mantém o uso do chapéu pelo Venerável Mestre, é o Bristol. Mas por uma ironia do destino, essa tradição permaneceu viva nos EUA. E os Ritos de origem francesa também mantiveram esse antigo costume, tão presente no Brasil.